Região Sul é a mais fiel ao Presidente Bolsonaro

  • BRASIL -
  • 05/08/2019
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Dados das pesquisas divulgadas pelo Ibope desde janeiro mostram que Bolsonaro continua “mito” para os que ganham acima de cinco salários mínimos

A avaliação positiva do governo e a popularidade do presidente Jair Bolsonaro diminuíram de forma constante nos primeiros seis meses do ano. Ao fim deste período, é possível dizer que o bolsonarista mais fiel se notabiliza por duas características marcantes: ele carrega o sotaque do Sul do País e está na faixa dos que possuem renda mais alta.

Dados das pesquisas divulgadas pelo Ibope desde janeiro mostram que Bolsonaro continua “mito” mais para os que ganham acima de cinco salários mínimos, cujo apoio chegou a crescer no mês de junho. Também na contramão da tendência de queda da avaliação positiva da atual gestão estão os moradores da região Sul, a única que registrou aumento no apoio a Bolsonaro na mais recente pesquisa, divulgada na semana passada em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Por outro lado, os habitantes do Nordeste e de menor renda foram os que mais desembarcaram do apoio ao presidente na primeira metade do ano. Em relação ao penúltimo levantamento do Ibope, em abril, três a cada dez nordestinos que apoiavam Bolsonaro pularam do barco. Hoje, apenas 17% dos moradores da região, reduto do PT, consideram a gestão boa ou ótima.

No Sul, por outro lado, a avaliação melhorou de abril para junho: hoje com 52% de aprovação ao presidente, oito pontos a mais em relação ao levantamento anterior, a região é a única onde ele tem como apoiadores mais da metade da população.

É o caso da administradora de empresas Marilea Martins, de 58 anos. Moradora de Curitiba, no Paraná, ela afirma que Bolsonaro “herdou uma estrutura corroída pela corrupção do PT” e precisa de apoio da população para governar. “As ações que ele está propondo para melhorar o País enfrentam a resistência do Congresso, corrupto e acostumado ao toma lá, dá cá.”

Marilea também se enquadra em outro aspecto: ao fazer um recorte por renda, também fica claro quem sustenta o apoio a Bolsonaro – que, na média geral, é avaliado como bom ou ótimo por 32% da população, mesmo número dos que o avaliam como ruim ou péssimo e como regular. Quase metade dos que ganham mais de cinco salários mínimos dão apoio ao presidente. Marilea se considera uma típica integrante da classe média curitibana e está na faixa entre cinco e dez salários mínimos.

Os dados por renda acabam refletindo nos que têm como base a formação escolar dos entrevistados. Bolsonaro também apresentou queda acentuada entre os que estudaram apenas até a 4.ª série do ensino fundamental, com seis pontos a menos da pesquisa de abril para a divulgada na semana passada – enquanto as outras faixas desse segmento não oscilaram tanto.

Apesar de os índices de bom ou ótimo, ruim ou péssimo e regular estarem no mesmo patamar, Bolsonaro é o presidente mais mal avaliado em início de primeiro mandato desde Fernando Collor. O presidente também vai mal em outros dois pontos da pesquisa: a aprovação ao modo de governar o País e a confiança na sua figura.

Mais da metade da população – 51% dos entrevistados – não confia no presidente, enquanto 46% confiam. Quanto ao modo de governar, os números são menos distantes entre si: 48% desaprovam a maneira como Bolsonaro se comporta à frente do Palácio do Planalto, ante 46% que o endossam.

“O apoio ao governo está bem próximo do tamanho dos grupos mais identificados com uma visão mais conservadora em termos morais (evangélicos sobretudo)”, afirmou o cientista político Marco Antônio Teixeira, que vê o desemprego e a queda na renda, somados a fatores mais específicos, como os principais motivos para a constante queda de popularidade do presidente.

A diferença mais acentuada se dá no segmento por região. No Nordeste a avaliação do governo como bom ou ótimo já era menor que a média nacional em abril e os números despencaram na mais recente pesquisa (mais informações nesta página).

No item renda, os que ganham até 1 salário e veem o governo com bons olhos ficam em apenas 21% dos entrevistados. A diferença entre os setores cresceu na pesquisa deste mês.

Outro pilar de sustentação do bolsonarismo, por sua vez, sofreu um baque na pesquisa de junho. Os municípios do interior e os com menos de 50 mil habitantes registraram queda maior do que capitais e cidades periféricas. Antes havia uma diferença clara entre os tipos de município; agora não há mais.

A contadora Angélica Bernardes, de 49 anos, moradora de São Leopoldo (RS), mantém o apoio a Bolsonaro porque considera que valores morais e éticos estão se perdendo. “Eu vejo que as pessoas já estão cansadas nesse país de falta de valores, princípios, educação, respeito. Infelizmente perdemos tudo isso no Brasil. É muita libertinagem. Não sou homofóbica, nem racista, eu só quero respeito”, afirmou a contadora, que apoia a política de armas do atual presidente.

Este também é o motivo do apoio manifestado pelo comissário da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, Ricardo de Souza Salamon, de 51 anos. “Essa falácia de calibres restritos e permitidos era mais uma jabuticaba. Temos é que endurecer a legislação para quem comete crime armado e com arma ilegal”, disse. “Permitir que o cidadão se defenda é dever do Estado. Mais perigoso é deixar, como ocorre hoje, que um criminoso quase sempre reincidente, seja colocado prematuramente em liberdade e coloque toda sociedade em risco”, afirmou Salamon, que trabalha há 27 anos na corporação.



**Estado de S.P Caio Sartori/ COLABORARAM LUCIANO NAGEL e EDSON FONSECA, ESPECIAIS PARA O ESTADO

Crédito da foto: Foto: Allan Santos/PR



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